Parnasianismo


Como muitos dos movimentos culturais, o Parnasianismo teve sua inspiração na França, de uma antologia poética intitulada O Parnaso contemporâneo, publicada em 1866. Parnaso era o nome de um monte, na Grécia, consagrado a Apolo (deus da luz e das artes) e às musas (entidades mitológicas ligadas às artes).  
No Brasil, em 1878, em jornais cariocas, um ataque à poesia do Romantismo gerou uma polêmica em versos que ficou conhecida como a Batalha do Parnaso. Entretanto, considera-se como marco inicial do Parnasianismo no país o livro de poesiasFanfarras, de Teófilo Dias, publicado em 1882. O Parnasianismo prolongou-se até a Semana de Arte Moderna, em 1922. 
O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo foram movimentos literários contemporâneos: Realismo e Naturalismo na prosa, e Parnasianismo na poesia. Enquanto a prosa realista representou uma reação contra a literatura sentimental dos românticos, a poesia parnasiana pregou a rejeição do “excesso de lágrimas” e da linguagem coloquial e declamatória do Romantismo, valorizando o cuidado formal e a expressão mais contida dos sentimentos, com um vocabulário elaborado (às vezes, incompreensível por ser tão culto), racionalista e temática voltada para assuntos universais. 

CARACTERÍSTICAS

- Formas poéticas tradicionais: com esquema métrico rígido, rima, soneto. 
- Purismo e preciosismo vocabular, com predomínios de termos eruditos, raros, visando à máxima precisão, e de construções sintáticas refinadas. Escolha de palavras no dicionário para escrever o poema com palavras difíceis. 
- Tendência descritivista, buscando o máximo de objetividade na elaboração do poema, assim separando o sujeito criador do objeto criado.
- Postura antirromântica, baseada no binômio objetividade temática/culto da forma.
- Destaque ao erotismo e à sensualidade feminina. 
- Referências à mitologia greco-latina. 
- O esteticismo, a depuração formal, o ideal da “arte pela arte”. O tema não é importante, o que importa é o jeito de escrever, a forma.
- A visão da obra como resultado do trabalho, do esforço do artista, que se coloca como um ourives que talha e lapida a joia. 
- Transpiração no lugar da inspiração romântica. O escritor precisa trabalhar muito, “suar a camisa”, para fazer uma boa obra. O poeta é comparado a um ourives.  

PRINCIPAIS AUTORES

Olavo Bilac (Foto: Reprodução)
- Alberto de Oliveira (1857-1937) – autor de Canções românticasMeridionais,Sonetos e poemasVersos e rimas
- Raimundo Correia (1860-1911) – autor de Primeiros sonhosSinfonias,Versos e versõesAleluiasPoesias
- Olavo Bilac (1865-1918) – autor de Via LácteaSarças de fogoAlma inquieta,O Caçador de esmeraldasTarde
- Vicente de Carvalho (1866-1924) – autor de ArdentiasRelicárioRosa,rosa de amorPoemas e Canções.

POESIA COMENTADA

A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! 
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício.

Porque a beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Olavo Bilac
 
Desde o princípio, Bilac buscava, em sua poesia, a perfeição formal. Escrevia versos decassílabos e alexandrinos (12 sílabas poéticas) e concluía-os com “chave de ouro” (versos de grande efeito ao final de cada estrofe). No poema “A um poeta”, Bilac descreve a arte de escrever um poema.  
O soneto, forma mais cultuada entre os poetas parnasianos, composto por versos formados por dez sílabas métricas, mostra a necessidade de o poeta trabalhar, somente, isolado da multidão. Assim, o poeta, quando está escrevendo seus versos, deve encontrar um lugar tão sossegado e silencioso como um mosteiro, pois o turbilhão da rua impede o ato de criação. O último verso, da primeira estrofe, mostra que, para alcançar a forma perfeita, faz-se necessário trabalhar bem com o objeto da poesia, isto é, a palavra. A repetição da conjunção “e” reitera o esforço do poeta para encontrar a palavra perfeita para sua obra. 
Na segunda estrofe, o eu lírico adverte que o resultado final, isto é, a conclusão do poema, deve ocultar o esforço que o poeta empregou na construção dos versos. Dessa forma, o eu lírico compara a forma perfeita a de um templo grego, fazendo a ligação com os clássicos, que aparece tanto na estrutura do texto (a forma de soneto), como em um de seus versos. A forma é tudo; o edifício não pode conter marcas do andaime: a forma perfeita deve ser leve, natural, as dificuldades de sua construção não podem ser vistas. 
Nos três versos finais, a “chave de ouro”: o belo é sinônimo de verdade; logo a forma perfeita é a única maneira de construir uma poesia bela e verdadeira. O último verso sintetiza o ideal parnasiano do culto à forma, da “arte pela arte”.

Unknown

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